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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os 10 anos de SILENT HILL 2


SILENT HILL 2: O ÚLTIMO JOGO DE SURVIVAL HORROR

Estupro. Incesto. Frustrações sexuais. Suicídio. Eutanásia. Se esses temas tivessem sido o centro de qualquer outro jogo no ultra-sensível final do ano de 2001, a revolta dos moralistas teria sido muito maior do que os dedos apontados para GTA 3. Ainda assim, apenas um mês  antes de GTA 3 cair como uma bomba, uma outra continuação (que mascarava o seu conteúdo controverso por traś de camadas de subtexto) chegou às prateleiras trazendo um material raramente encontrado em outros jogos. Como os outros Silent Hill vieram provar, Silent Hill 2 não passou despercebido, embora tenha chegado e partido sem muita pompa e propaganda. Mas certamente recebeu a sua cota de críticas.

Então por quê, dez anos mais tarde, os fãs se lembram com tanto carinho de um jogo que não foi apenas o ápice de uma longa série, mas também uma das experiências de maior apelo emocional na história dos videogames?


Honestamente, SH 2 não foi o precursor do gênero. Mal haviam passado cinco anos desde que Resident Evil tinha apresentado ao mundo o estilo Survival Horror (um termo esquisito, mas adorável) e ambos com seu estilo pouco amigável logo se transformaram de novidade em pura incomodação. Com sua mecânica dura, muitos jogadores estavam ficando de saco cheio. Era “uma atmosfera surreal com sequências de ação desastradas e mais desconjuntado do que perturbador; um pesadelo até para jogar”.

SH 2 não é um jogo que oferece as mesmas recompensas que esperamos ganhar dos videogames. Em todo lugar ele tenta te alienar, perturbar e frustrar. E a jornada do protagonista James não conduz à respostas satisfatórias devido ao subtexto e simbolismo impenetrável que envolve praticamente tudo que ele encontra. Mas pensar em SH 2 menos como um jogo e mais como uma experiência nos leva à uma questão mais misteriosa do que o próprio jogo: Por quê nunca mais vimos algo igual desde então?

TRADUZINDO O MEDO

O jogo abre com o protagonista James Sunderland recebendo uma carta de sua esposa (supostamente morta) que clama para que ele a encontre em Silent Hill, e através de suas andanças, James encontra um elenco de pessoas perdidas, cada uma com sua própria bagagem de traumas. 

Ângela, vítima de abuso sexual nas mãos de seu pai, afirma estar procurando por sua mãe, embora na maior parte do tempo ela permaneça contemplando um suicídio.

Eddie, o excluído, pode estar usando a cidade de Silent Hill como um modo de escapar daqueles que o atormentam ou como um modo de encenar suas ilusões sádicas de poder.

Maria, a substituta da esposa de James, aparentemente existe tanto para provocar quanto para punir o protagonista por um crime brutal que os jogadores só descobrem na última hora do jogo.

SH 2 tem um ar de desespero, o qual só é exacerbado pelo fato de que, na primeira jogada, os jogadores provavelmente verão o final no qual James comete suicídio. Mas apesar das escolhas que muitos considerariam incomuns, SH2 teve a sorte de evitar qualquer intervenção ou cortes à nível executivo.

Silent Hill 2 brotou da mente de Hiroyuki Owaku (com uma inspiraçãozinha do filme Lost Highway de David Lynch) e não foi uma tarefa simples. Dado o simbolismo da trama assim como o processo não-linear de localização, os criadores sofreram muito. Especialmente com as personalidades duplas de Mary e Maria. “SH 2 foi muito intrincado na sua narrativa e nas emoções das pessoas lá. 'Será que é a Mary aqui ou a Maria afinal?'”

Esta também foi a primeira experiência da Konami com motion capture e sincronização de falas com os atores. O “intérprete” de James comenta: “Interpretar James foi uma catarse para mim. Eu havia recém me divorciado naquela época e a dor ainda era muito presente. Para mim era moleza produzir lágrimas e tristeza porque eu havia passado por um inferno com a minha ex e andava me sentindo meio suicida. Se não fosse por meus filhos, eu não tenho certeza de que eu teria superado. Eu não conseguia suportar a ideia de deixá-los sozinhos com ela para serem criados. O que eu quero dizer é que se os diretores me pedissem angústia, só o que eu precisava fazer era cavucar alguma memória antiga e a tristeza voltava pra mim na hora.”

EXPANDINDO O AMBIENTE

Mesmo que SH 2 tenha inovado em narração e temática, a série como um todo não seria nem metade do que é sem o auxílio de Akira Yamaoka, que compôs a trilha sonora para cada um dos jogos Silent Hill. O talento da equipe de criação não pode ser negado, mas Yamaoka se destaca como um dos poucos criadores originais que ficou famoso.



Embora tenha começado a carreira no começo dos anos 90 escrevendo trilhas bem comuns para jogos infantis como Sparkster e Poy Poy, Yamaoka decidiu usar o primeiro Silent Hill para desafiar o estilo tradicional das músicas de videogame. Inspirando-se em sons urbanos da vida diária, Yamaoka preencheu SH com batidas industriais duras perfeitas para mexer com os nervos do jogador.

Após seu trabalho no primeiro jogo, Yamaoka retrocedeu um pouco em seus esforços; onde o original é perfeito na dissonância, o segundo jogo apresenta melodias fortes e comoventes que refletem a trágica natureza dos personagens. “Theme of Laura”, indubitavelmente a mais aclamada música da série (sem mencionar que é a preferida de Yamaoka), originou-se da necessidade de fazer um som mais próximo do emocional, diferente do assombroso som do bandolim com ruído no primeiro jogo.


"Desde o lançamento de SH 2 não saiu mais nada igual.” Yamaoka compara o jogo com um cd de rock que cria um novo padrão impossível para a música. “Não há nada feito até hoje que se compare. E a verdade é que eu quero mais. Eu quero mais jogos como SH 2, mas eles não vem.”
Apesar de suas palavras esperançosas para o futuro, o seu idealismo não amorteceu o seu raciocínio para o modo como a indústria funciona e ele não se acanha de expressar a sua frustração. “(...) agora guerra e aliens é o material que vende. Você tem que achar o negócio certo e achar clientes para o seu produto.”
Mesmo que seja impossível providenciar uma grande verba novamente para este estilo de jogo, ele ainda tem chances de ganhar novos fãs devotos com o lançamento de um remake em alta definição planejado para o começo de 2012. E embora a mecânica dos jogos tenha se tornado mais e mais balística nesses últimos 10 anos, a experiência pura de Silent Hill 2 ainda permanece incomparável.


Traduzido e adaptado por mim mesmo. Texto na íntegra= http://www.1up.com/features/silent-hill-2-last-survival-horror?pager.offset=2

E agora, leitores trogloditas, o final mais triste  que eu já vi até hoje em qualquer história. Sim, eu chorei...

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