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terça-feira, 15 de maio de 2012

Afinal, o que diabos são jogos ~adultos~?



Agora que os jogos estão ficando cada vez mais difundidos na cultura popular e até oAntônio Fagundes pode falar publicamente que curte Resident Evil sem virar motivo de piada, aquele velho discurso de que videogame é coisa de criança já não cola mais. No lugar dele, surgiu uma versão atualizada, igualmente desinformada e preconceituosa: a afirmação de que só alguns jogos são coisa de criança, enquanto outros são adultos e maduros.
Afinal, o que diabos define um jogo como sendo “adulto”? Seria um jogo em que você tem que declarar imposto de renda, fazer exame de próstata ou participar de reunião de pais e mestres na escola do seu filho?
Jogos adultos são aqueles têm sangue, tripas e peitos de fora, como God of War. Enquanto você brinca de voar entre planetinhas coloridos com o Mario, eu estou aqui com um jogo de homem, realmente maduro“, responde Roberval, um adolescente aleatório que acabei de inventar só pra ilustrar o quão patético (embora comum) é esse raciocínio. Imagine se um Goomba explodisse em meio a litros de sangue e pedaços de intestino toda vez que você pulasse em sua cabeça. Isso tornaria os jogos de Mario mais maduros?
Associar violência e nudez gratuitas com maturidade é coisa de moleque de 14 anos, do tipo que tem coleção de camisetas do Slipknot e se acha muito rebelde por tomar umas latinhas de cerveja escondido dos pais. É uma tentativa fracassada de simular o universo dos adultos por meio de coisas que normalmente são negadas às crianças, tais como violência explícita, sexo e atropelamento de prostitutas ao som de hip-hop.
É meio triste constatar que essa é a mentalidade e a perspectiva da maior parte da indústria de jogos atualmente, ostentando maturidade através do hábito de destruir irracionalmente tudo que aparece na sua frente com socos, tiros, magias e machadadas, sem nenhuma implicação moral.
Não estou dizendo aqui que jogos como God/Gears of War não deveriam existir ou que é errado gostar desse tipo de coisa. Óbvio que eu também me divirto explodindo cabeças às vezes. O ponto aqui é que não é necessariamente a quantidade de mamilos e sangue presentes em um jogo que o tornam ideal para pessoas adultas. Todo tipo de jogo tem condição de endereçar temas mais profundos e vemos muitos exemplos disso por aí.
Mother 3, por exemplo, é um RPG fofinho de GBA que mostra um pai que não consegue lidar com a perda da mulher e de um filho. Psychonauts, um jogo onde metade do elenco é composto por crianças cabeçudas, fala sobre desilusões amorosas, decepções com a vida e dificuldades de relacionamentos entre familiares. Catherine, mesmo tendo ummonstro-bunda gigante atirando corações, aborda muito bem o dilema de assumir compromisso com uma pessoa sob o risco de perder sua liberdade individual. Todos esses são temas que deixariam uma criança te olhando com cara de “É de comer?”.
No final, a classificação etária não está lá tentando avaliar a real profundidade ou maturidade de um título. Ela serve mais pra evitar que as crianças perguntem antes da hora o que o Kratos estava fazendo com aquelas moças, ou impedir que alguém tente aplicar um Fatality no irmãozinho. O tal “rated M for mature” certamente não é literal, então faça um favor à humanidade e não levante essa bandeira pra zombar de quem curte Pokémon, Angry Birds, Kingdom Hearts ou Farmville (pensando melhor, pode aloprar os fãs de Kingdom Hearts).
A moral da história é que é sempre bom ter em mente que jogar ou não aqueles troços coloridos e baitolas do Wii não tem absolutamente nada a ver com ser adulto ou maduro. Aliás, dizem as lendas que a verdadeira maturidade está em fazer o que tem vontade sem ficar bitolado com o que os outros podem pensar disso.

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