COOLTURAL

COOLTURAL
Cultura, entretenimento e mundo geek

domingo, 27 de maio de 2012

Rurouni Kenshin: Tsuiokuhen – uma obra-prima dos animes


Rurouni Kenshin: Tsuiokuhen
kensword2.jpg
… Há cento e quarenta anos atrás, quando Kyoto estava no centro do turbilhão caótico chamado Bakumatsu no Douran, criado com a chegada dos navios negros de Matthew Perry, havia um paladino da Restauração, um guerreiro, chamado Hitokiri Battousai. Battousai era o espadachim mais poderoso, e retalhava as pessoas promovendo verdadeiras carnificinas e limpando o caminho para uma nova era, a Era Meiji. Mas, logo depois do tumulto, ele sumiu repentinamente… Enquanto seu desaparecimento continua um mistério, o nome Hitokiri Battousai se tornou uma lenda. E essas crônicas se iniciam no ano 10 da Era Meiji (1878) em Shitamachi, Tokyo…
(tirado do primeiro episódio de Rurouni Kenshin)
 Por dentro do universo de Kenshin Himura
lostcause.gifAssim começa um dos animes que mais fez sucesso por aqui no Brasil: Rurouni Kenshin ou Samurai X. A série que passou na Globo e depois no Cartoon Network, e lançado em mangá pela JBC, conta a história de Kenshin Himura nos primeiros anos da Era Meiji (1868-1912) no Japão. Kenshin é um pacato espadachim, que prometeu a si mesmo nunca mais matar. Ele antigamente era um espadachim extremamente habilidoso na técnica do Hiten Mitsurugi Ryuu. Durante o Bakumatsu (fim do Shogunato e o começo da era Meiji) Kenshin era conhecido como o terrível assassino retalhador Hitokiri Battousai. Apesar do seu nome ocidental, Samurai X, Kenshin nunca foi um samurai de verdade.
Assim, Battousai estava a serviço da Ishin Shishi (monarquistas que desejavam a restauração do governo para as mãos do imperador). Quando Rurouni Kenshin/Samurai X foi lançado, o que nós vimos foi um Kenshin arrependido pelas mortes que causou durante as revoluções em seu passado (que culminou na derrubada do Shogunato de Tokugawa e deu origem a Era Meiji). Kenshin vagou 10 anos pelo Japão como um andarilho afim de expiar pelas inúmeras mortes que causou, carregando apenas uma Sakabatou (espada com lâmina invertida) e a promessa de nunca mais matar.
 bluesnow.jpg
Durante os 10 anos que caminhou, o nome de Hitokiri Battousai tornou-se uma lenda. Mas a época agora era outra. Durante a Era Meiji, o Japão começou a sua modernização e passou a ser uma potência mundial sob o comando do imperador Meiji, deixando para trás o regime feudal, que deixava o Japão economicamente atrasado em relação aos outros países por causa de seu isolamento. Os samurais já não existiam, a lei da espada já não significava nada naquela era de modernização, progresso e capitalismo.
Assim Kenshin vai acabar encontrando abrigo no Dojo Kamiya, onde se encontra a jovem Kaoru Kamiya que leciona o kendo no estilo Kamiya Kashin (espada para a vida). Lá Kenshin faz novos amigos (e inimigos) e apesar de sua promessa de não mais matar, ele terá que brandir sua Sakabatou novamente para enfrentar novos e velhos inimigos.
Essa foi a série que passou nas telinhas brasileiras e nos mangás da JBC. O andarilho ruivo com a cicatriz de “X” no rosto fez muitos fãs mundo afora e especialmente aqui no Brasil. A série teve 94 episódios, onde pudemos ver as aventuras de Kenshin, Kaoru, Sanosuke e Yahiko na Era Meiji.
kengroup.gif
Primeira abertura de Samurai X (Rurouni Kenshin)
A história de Tsuiokuhen
Um tempo depois do término da série seria lançado a primeira série de OVAs, Rurouni Kenshin: Tsuiokuhen / Rurouni Kenshin: Reminiscências, dividido em quatro partes. Os OVAs foram um sucesso estrondoso e mostrava o passado de Kenshin como Hitokiri Battousai. Ele é inédito no Brasil e nem todos os fãs o conhecem. Abaixo contarei a história dele, já aviso que terá spoilers.
Ela é ambientada durante o declínio do Shogunato Tokugawa e mostra a infância e adolescência de Kenshin. Seu nome de batismo é Shinta (espírito nobre) e aos seis anos foi vendido à mercadores de escravos logo após a morte de seus pais adotivos, vitimados pela cólera.
Durante uma caravana em que o ainda pequeno Shinta está caminhando pelas florestas junto com algumas mulheres que cuidavam dele, saqueadores samurais aparecem e começam a matar todo mundo da caravana. As mulheres tentam proteger Shinta e são mortas impiedosamente.
017.jpgÉ quando então aparece Seijuru Hiko, um mestre no estilo Hiten Mitsurugi Ryuu que estava ali por perto. Um dos bandidos pergunta “Quem é você, desgraçado?”. Hiko, com sua imponente capa e com uma voz fria responde “Não é preciso dizer meu nome para quem já está morto.” O pobre diabo é totalmente picotado em segundos (e Hiko só usou uma mão para isso) e depois de fazer a “limpeza” no local, vai conversar com Shinta e diz a ele que os mortos foram vingados, e vai embora deixando o garoto para trás.
Hiko volta ao lugar do massacre e fica surpreso ao encontrar o garoto fazendo sepulturas para os mortos, inclusive para os bandidos. Hiko se apresenta dizendo que é uma espécie de guerreiro e dá algumas lições de moral para Shinta a partir das mortes das garotas que o tentaram proteger. Ele pergunta o nome do pequeno e diz que “Shinta” é um nome muito gentil para um guerreiro, e então dá o nome deKenshin (espiríto da espada) para o garoto.“Vou te ensinar algo muito especial”, diz Hiko.
Assim tem início o treinamento de Kenshin na técnica suprema do Hiten Mitsurugi Ryuu. Ainda muito jovem, aos 14 anos, Kenshin já dominava quase que completamente a técnica de seu mestre. Kenshin é um jovem idealista, começa a discutir com Hiko dizendo que muitas pessoas estão morrendo nas ruas e que ele (Kenshin) poderia ajudá-las através do Hiten Mitsurugi.
Hiko o chama de idiota e diz que ele nada poderá fazer sozinho, que ele terá que escolher um lado da disputa e que isso significa ser manipulado pelas forças políticas. Hiko ainda dá mais umas lições de moral, dizendo “Uma espada é uma arma! Kenjutsu é uma técnica para matar! Não importa que belas palavras você use, essa é a verdade. Você mata para proteger os outros. Você mata uns para que outros vivam. Essa é a verdade do kenjutsu. Como no dia em que o salvei, eu matei alguns bandidos. Mas eles também eram seres humanos. Nestes tempos conturbados eles estavam lutando para sobreviverem.” (Aliás, palavras parecidas foram usadas por Kenshin quando conheceu Kaoru, que discutiam sobre o estilo Kamiya Kashin). Kenshin continua insistindo que precisa usar aquela força para proteger os fracos. Hiko vira as costas e diz que não se importa mais com o que o seu aluno faça. Assim Kenshin abandona seu mestre e vai em busca de seus ideais.
kenshinova15.jpg
Tomoe e seu irmão Enishi… futura dor de cabeça para Kenshin
Kenshin acaba se juntando a uma facção monarquista e logo chama a atenção pela sua habilidade com a espada. Sob as ordens diretas do líder Kogurou Katsura, Kenshin torná-se um assassino com o ideal de um mundo novo e melhor para todos. Nas palavras de Katsura para Kenshin “Não farei que soe bonito. É assassinato. Mas, para criar um novo mundo, precisamos destruir o velho. É um trabalho indesejável, mas precisa ser feito.” Durante esse período em que matou milhares de pessoas ligadas ao Shogunato, ficou conhecido como Hitokiri Battousai, o retalhador. Em uma das cenas podemos ver Kenshin pensando: “Além da minha espada impura manchada de sangue e das muitas vidas que caíram vítimas dela… se for por uma nova era onde as pessoas possam viver em paz, então eu… (aparece uma cena dele retalhando dois coitados)… em nome do céu… (mais uma sequência dele matando mais três)… eu matarei.”
ova1_20.jpgEm um dos seus “trabalhos”, Battousai mata três homens, um deles, Kiyosato, que era guarda-costas da principal vítima, luta contra Battousai. Claro que ele não tem nem chance, mas o seu desejo de viver é muito grande (ele ia se casar em breve). Enquanto luta com o jovem assassino, ele só pensa “eu… não quero… morrer…. não ainda… eu não quero morrer…”. Apesar dos seus desejos, ele morre, mas não antes de em um golpe de sorte, marcar no rosto de Battousai a primeira linha do famoso X.
Apesar de Kenshin lavar a ferida constantemente, ela não desaparece. Uma superestição diz que uma ferida causada por uma espada empunhada com rancor não desaparecerá até que ele seja absolvido. Uma ferida que não desaparece por um longo tempo.
Durante suas matanças, Kenshin conhece uma bela jovem, Tomoe (que era a noiva prometida do guarda-costas que Kenshin matou, mas ele não sabe disso). Katusura vê em Tomoe a chance de manter pura a alma de Kenshin, que estava se tornando um matador frio, o que preocupava Katsura. Katusura pede a Tomoe que cuide de Kenshin e que seja o seu refúgio da vida de matança que ele vive. Porém Tomoe tem outros planos, ela faz parte de um intrincado plano de assassinos ligados ao Shogunato – o que ela deseja é matar o assassino do seu noivo.
Emboscadas ao Ishin Shishi obriga que seus participantes façam uma retirada estratégica. Assim Katsura desaparece por uns tempos e o jovem Battousai ganha umas férias e muda-se para um vilarejo nos arredores de Kyoto, onde permance por cinco meses. Junto com ele está Tomoe, que passam a viver como marido e mulher para não levantarem suspeitas (a pedido de Katsura). Nesse período Kenshin tem uma vida tranquila de homem do campo, não empunha mais a espada (apesar de estar sempre com ela) e pela primeira vez em sua vida conhece o significado da palavra paz.
ova3_30.jpg
retalhadores também amam
Tanto ele como Tomoe começam a desenvolver sentimentos um pelo outro, e o que era para ser uma farsa, acaba se tornando uma realidade. Tomoe vê Kenshin com outros olhos, ela vê um homem de coração puro e sensível, bem diferente daquele que carrega uma espada ensanguentada. Seu coração entra em conflito ao perceber que se apaixonou pelo assassino de seu noivo prometido.
Sua ida ao campo faz parte de um plano para deixar Battousai “enferrujado” na habilidade da espada e para assim ninjas do Shogunato poderem mata-lo. Tomoe fazia parte desse plano. Ela é levada para o esconderijo dos assassinos (ela tenta matar o líder, mas não consegue) e Kenshin parte em busca dela. Um a um ele vai enfrentando os assassinos do Shogun, saindo gravemente ferido em cada uma das batalhas.
Quando finalmente chega ao líder, Kenshin está em um estado deplorável e claramente não possuí nenhuma chance contra o inimigo, que dá uma surra nele. Quando ia aplicar o golpe final em Kenshin, Tomoe entra na frente, levando um golpe fatal da espada de Kenshin (que também acerta o inimigo atrás de Tomoe).
ova4_28.jpg
Tomoe morre e dá um novo sentido à vida de Kenshin…
Tomoe morre nos braços de Kenshin, e nos seus últimos suspiros ela pega a sua adaga e marca o rosto de Kenshin, formando assim a cruz em seu rosto (o desejo dela de não morrer garantiu que a cicatriz ficasse ali). Uma forma dele nunca se esquecer dela, que morreu para protege-lo.
Após a morte de Tomoe, Battousai retorna aos campos de batalha, lutando em inúmeras batalhas contra membros do Shogun e do Shinsengumi (uma espécie de polícia do Shogun – Saitou fazia parte dele e travou diversas batalhas com Kenshin). Com a cicatriz no rosto, Battousai era temido por todos, e na esperança de um novo mundo, ele continuou matando, mas jurou que assim que acabasse a guerra, nunca mais iria matar de novo.
E assim aconteceu, Battousai desapareceu depois das últimas batalhas. Ganhou uma espada Sakabatou do famoso forjador de espadas Shakku Arai e abandona o nome de Battousai e passa a vagar pelo Japão, até se instalar no dojo de Kaoru no ano 10 da era Meiji.
ova4_45.jpg
descanse em paz, Tomoe… sua morte não foi em vão
 Aspectos Técnicos
O que dizer desses OVAs de Kenshin? Uma palavra descreve bem: Uma obra-prima! Para aqueles que estão acostumados com a série de TV (ou o mangá), não esperem ver neste OVA as mesmas características que fizeram Battousai famoso.
kenshinova14.jpgPelo contrário, Rurouni Kenshin: Tsuiokuhen difere em tudo da série de TV, a começar pelos seus traços, sem aquele estilo “fofo” da série de TV, mas algo mais realista. A arte-final é lindíssima, os cenários, os campos, lagos e tudo mais retratado nos cenários de fundo é esplêndida e exuberante, um trabalho que mostra cenários coloridos bem feitos e ao mesmo cenários obscuros e sombrios, com pequenos toques de computação gráfica. Nota 10!
Mas como visual não é tudo, outro fator importante a ser ressaltado é o enredo, que está ótimo! Essa aqui não uma história apenas para mostrar “como a cicatriz de cruz apareceu”. Nós vamos presenciar o passado sangrento de Kenshin de forma maestral, com diálogos bem feitos, muita ação, drama e até romance. Ele tem um clima pesado, realístico, privado de todo o humor e características irreais da série de TV. Tudo isso mesclado na história japonesa, portanto isso aqui não é apenas animação, mas também uma aula da cultura japonesa ^.^
Vamos presenciar o período sangrento do Shogunato Tokugawa (ou Bakufu, que era na verdade um regime ditadorial militar feudal) e o começo da Restauração Meiji. Vamos ver personagens que possem honra, traidores, encontros e desencontros, vida e morte, amor e ódio. Apesar de ser bem sangrento e violento (com cenas fortes de Kenshin retalhando seus inimigos ao meio – literalmente), Tsuiokuhen é mais uma história de amor do que de ação.
ova3_28.jpg
E como senão bastasse possui uma trilha sonora orquestral genial! Composta por Iwasaki Taku as belas melodias são um deleite para nossos ouvidos, que adicionam e completam o clima para certas cenas, alternando entre ação e paixão. Não dá para imaginar esse OVA com outras músicas senão essas.
Kenshin Battousai, retratado como o arauto da morte em um belo espetáculo onde crenças como amor e ódio, honra e lealdade são levados aos extremos.
Rurouni Kenshin: Tsuiokuhen é uma obra-de-arte que todo fã de anime deve assistir. E se você é fã das aventuras de Kenshin, então é obrigatório!
Confira abaixo um vídeo que eu acho SENSACIONAL, com cenas de Tsuiokuhen e a música Trust da banda Megadeth.
008.jpg
“I´ll continue to live… with my broken heart… to paid for my sins…”

Nenhum comentário:

Postar um comentário